O Escândalo Aéreo de 1930 – Parte 1 de 2

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Como pudemos acompanhar na série “História das Companhias Aéreas”, publicada aqui no Canal Piloto, o principal objetivo da aviação comercial em seus primórdios era o transporte de malotes postais. Em um mundo muito anterior à conectividade proporcionada pela Internet, as cartas constituíam a principal forma de comunicação entre pessoas e empresas separadas por distâncias maiores do que aquelas cobertas por um simples telefonema local. Dessa forma, transportar correspondências por grandes distâncias, em pouco tempo, logo tornou-se naturalmente a primeira grande missão da recém-nascida atividade de voar.

Sendo os Estados Unidos o quarto maior país do mundo em extensão territorial, a principal economia do mundo moderno e a terra natal dos irmãos Wright, é natural que ele se tornasse um dos principais berços da aviação mundial. Como tudo o que pode ser classificado como invenção recente, a aviação nasceu necessitando de vários ajustes técnicos e legais para se estabilizar como uma atividade comercial regular e confiável. E justamente por conta dessas falhas, um grande escândalo político viria a assolar a aviação americana em seus primórdios, afetando a gestão de dois grandes presidentes americanos, e curiosamente, dando origem ao que se tornariam os moldes da aviação civil e militar das gerações futuras.

No princípio da aviação americana, os transportes aéreos postais eram operados exclusivamente por pilotos militares. O ano era 1918, e o armistício da Primeira Guerra Mundial havia sido recentemente assinado, selando novamente a paz entre os países envolvidos no conflito. Utilizando aeronaves remanescentes dos combates, ases americanos enfrentavam toda sorte de condição meteorológica para garantir que as correspondências fossem entregues a tempo, e aos destinatários certos.

A inexperiência humana em voar ceifava inúmeras vidas de pilotos nesses primórdios. Com o crescimento da segurança e da capacidade de transporte, aeronaves postais passaram a voar mais longe e por mais tempo, dando início aos voos noturnos. Os números de acidentes fatais voltaram a crescer, e logo a Força Aérea Americana se deu conta de que, sozinhos, não seriam capazes de atender à demanda postal de todo o seu território nacional.

Em 1925, o Congresso Americano autorizou a sub-contratação de empresas privadas para auxiliar no transporte aéreo postal – no intuito de, inclusive, fomentar a aviação comercial na América. As empresas privadas eram pagas pelo peso dos malotes que carregavam, o que levou aos primeiros problemas nesse sistema. Numa economia que se degradava rumo à quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, pilotos transportavam fardos de papéis molhados e até maquinários em seus malotes, numa tentativa de cobrar maiores quantias do governo americano.

Em 1930, o presidente americano Herbert Hoover indicou Walter Folger Brown ao cargo de “Postmaster General”, a autoridade máxima do correio americano. A Brown, cabia a incumbência de solucionar a ineficiência dos serviços aéreos postais de sua época. Para isso, foram-lhe conferidos poderes quase ilimitados sobre o transporte aéreo nacional, através do “Ato do Correio Aéreo de 1930”, como ficou conhecida a sua nomeação pelo presidente Hoover.

Dentre as providências a serem adotadas por Brown, estava a mudança na forma pela qual as empresas privadas seriam pagas por seus serviços. O pagamento passou a ser feito não mais por peso, mas pela capacidade de transporte de cada companhia. Aquelas que possuíssem aeronaves com capacidade para maiores volumes receberiam maiores quantias por seus contratos de licitação. Assim, esperava-se incentivar também o transporte de passageiros, já que o novo parâmetro de cobrança seria o volume transportado, independente de seu peso.

Para definir os critérios de aprovação das empresas aéreas nos processos de licitação, Walter Brown procurou o auxílio de William P. McCracken Jr., um ás da Primeira Guerra e Instrutor de Voo, que já havia auxiliado a elaborar a regulamentação da aviação comercial americana, em 1926. Juntos, Brown e McCracken organizaram o que viria a ser conhecido como a “Conferência de Espólios”, uma reunião onde três companhias aéreas foram eleitas para monopolizar o sistema aéreo postal americano, num esquema que também beneficiaria a Brown e McCracken.

As três empresas – que posteriormente dariam origem às gigantes American Airlines, United Airlines e TWA – tinham sua exploração aérea garantida, sem a necessidade de adequar-se aos justos critérios de licitação de contratos. O esquema logo levantou suspeitas que, em 1933, resultariam numa investigação do Congresso Nacional. Brown e McCracken foram condenados pela prática de lobby, trazendo à tona um escândalo que o Presidente Hoover, no fim de seu mandato, seria obrigado a deixar para o seu sucessor, Franklin Roosevelt.

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Luiz Cláudio Ribeirinho
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