O mundo dá voltas | Minha Proa: 027

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Quando divulgamos nosso objetivo em nos tornarmos pilotos, é típico haver pessoas, sejam amigos ou familiares, que são totalmente contra e tentam nos desmotivar a qualquer custo. Mas uma vez que chegamos lá, o cenário muda.

Eu decidi que iria me tornar piloto aos 13 anos de idade, após ter ficado maravilhado com um jogo de combate aéreo que havia comprado para meu então novo computador, o game “B-17 Flying Fortress: The Mighty 8th”. Logo compartilhei minha decisão com os familiares e amigos mais próximos, incluindo os de minha sala de aula do ensino fundamental. Mas infelizmente, a notícia não ficou nesse círculo interno por muito tempo.

Toda sala de aula possui a famosa turminha do fundão, a qual reúne repetentes, bagunceiros e desinteressados em geral. Na minha sala de aula, não era diferente. Cada um deles seguia uma casta pré-existente, como o piadista, o valentão, o fugitivo, e o vândalo. Dentre a maioria masculina desse setor da sala, havia uma garota que, talvez por não se encaixar no grupinho das patricinhas ou das inteligentes, tentava se enturmar no fundo da sala para conseguir alguma popularidade. Ela se encaixava na casta das “barraqueiras”, aquelas que decidiam que a solução para discutir ou humilhar algum colega de sala, era falar sua mensagem gritando e gesticulando o máximo possível. Nesses momentos ela ganhava toda a atenção da sala, que ria da situação às vezes, trazendo sucesso a esse ato que, hoje, o mundo politicamente correto chamaria de bullying.

Infelizmente o meu objetivo de se tornar piloto chegou aos ouvidos dessa aluna, que sem pensar duas vezes logo se levantou apontando para minha pessoa nas primeiras fileiras da sala, e gritou a plenos pulmões com sua voz esganiçada:

– VOCÊ NÃO VAI SER PILOTO PO*** NENHUMA!

Um terço da sala riu, um terço ficou sem entender, e o outro terço também riu mesmo sem entender. Isso em nenhum momento abalou meu objetivo, mas certamente fez crescer meu rancor por aquela pessoa.

Anos se passam. O ensino fundamental acaba, o ensino médio também é superado, e eu finalmente me formo como Piloto Privado.

Em um belo dia resolvo checar minhas mensagens em uma rede social, e dentre elas, para minha surpresa, está uma mensagem dessa minha velha inimizade. Aparentemente se esquecendo, ou ignorando, aquilo que havia me dito anos atrás, ela escreve:

– “Oieee!!! Vi nas suas fotos que você conseguiu realizar seu sonho de ser piloto, fico muito feliz!!! Sempre torci por você!!! Beijos!!!”

Fico sem reação por alguns momentos. Será que ela, no modo mais cínico possível, está ignorando todo seu comportamento de anos atrás? Se for o caso dela ter esquecido, talvez eu devesse lembrá-la, e também colocar pra fora tudo o que eu guardei para dizer durante todos esses anos… Mas não.

Mantive-me político, respirei fundo, e apenas respondi:

– “Grato! :) Não foi fácil, mas consegui. Tchau!”

Fechei a janela, e coloquei o assunto por encerrado.

É amigos, o mundo dá voltas.

Abraços,

Sales

Alexandre Sales
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