O Padre e o Paraquedista

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  Em 20 de abril de 2008, Adelir Antônio de Carli, 41 anos, o padre voador, partiu de Paranaguá-PR para tentar bater o recorde de permanência em voo sustentado por balões de gás hélio.

  A façanha já havia sido tentada antes. Em 13 de janeiro do mesmo ano, partindo de Ampére-PR, a expedição terminou 4 horas e 15 minutos depois a 110 quilômetros do ponto de partida. Já sobre a Argentina, o padre iniciou o pouso meticulosamente preparado, estourando as bexigas com um estilete especial para este fim. 

  O intrépido piloto contou que o mais difícil foi descobrir quanto de gás hélio usar, uma vez que cada balão é capaz de suspender apenas meio quilo de carga. Após inúmeros cálculos, e com o peso de decolagem estimado em 200 quilos, chegou-se ao resultado de 400 balões para navegar e mais 100 para fazer a decolagem. O computador da paróquia foi inestimável para estes cálculos.

  A nova expedição, além de bem preparada com um telefone celular e GPS, contava também com a proteção divina, uma vez que o padre ficou conhecido pela luta a favor dos direitos humanos e era sacerdote. Nada poderia dar errado. Sua astúcia não parava aí. Além dos equipamentos, usava uma roupa que o protegia do frio dos 5.100 pés (1.550 m) que já havia alcançado no outro voo de 500 balões.

  Às 13 horas do domingo, desta vez suspenso por 1000 balões, nosso herói decolou com objetivo de chegar a Dourados-MS. Carli desejava ficar mais de 20 horas voando para bater o recorde pertencente a dois americanos que ficaram 19 horas em voo semelhante. Sua grande experiência só não era maior, porque seu instrutor de voo livre o expulsou da escola por ser indisciplinado e exibicionista.

  Algum tempo depois da decolagem fez contato com seu celular afirmando haver sido “surpreendido” por uma forte corrente de vento contrária às suas intenções e encontrava-se sobre o mar. Não pode dar mais orientações para a equipe de resgate, pois não sabia operar o GPS que portava consigo. As comunicações cessaram quando a bateria do celular se esgotou.

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  Em 3 de julho, o corpo do intrépido aeronauta (morto) foi encontrado nas águas do Rio de Janeiro.

  Em sua homenagem, foi lhe agraciado o Prêmio Darwin. Uma honraria concedida aos membros que contribuíram com o melhoramento da espécie humana ao retirar seu material genético da face da terra.

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  O texto e foto acima têm por objetivo chamar a atenção para este paraquedista austríaco, Felix Baumgartner, 43 anos, que fez um salto a partir de um balão de gás hélio a 120.000 pés (quase 37 km) e atingiu a velocidade do som (mais de 1130 km/h), em queda livre.

  Há cinco anos planejava o feito nos mínimos detalhes. Seu projeto era acompanhado por médicos especialistas e engenheiros aeronáuticos. A aventura foi arriscada e o propósito não era tão nobre quanto àquele do padre. Apenas queriam estudar os efeitos da estratosfera e a extrema velocidade sobre o corpo humano.

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  A partida já foi adiada duas vezes, pois o vento estava 1 km/h mais forte que o previsto para liberar a decolagem do balão. A despeito desta covardia estrangeira, a decolagem foi tentada novamente neste domingo 14/10/2012. Se fosse por decisão do nosso abençoado e bravo padre, a decolagem já teria acontecido anteriormente.

  Ambos planejaram sem dúvida, e planejamento é tudo, mas deve ser bem feito.

  Encerro sem ironia. Vale também refletir antes de cada decolagem (ou projeto de vida), se desejamos ganhar o Prêmio Darwin ou voar inúmeras vezes, mesmo que no anonimato de ser um aviador vivo.

Fly safe!

Franco G. Rovedo
franco.rovedo@gmail.com

Renato Cobel
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