O verdadeiro ritmo das inovações

Como pudemos ver, muitas coisas “novas’’ estão sendo acrescidas todos os dias aos projetos dos jatos mais modernos, ao custo de milhões. São inúmeros os avanços, de modo que seria impossível citá-los detalhadamente em uma série de artigos. O mais importante e que devemos entender bem é em quais áreas esses avanços tem se tornado mais nítidos, e também por quê.  Muito embora eu e grande parte do meio aeronáutico admitamos que as reais alterações devem ser feitas em prol da segurança e preservação do meio ambiente, esse na realidade não é o foco. Contraditório? Um pouco.

Apesar dos fabricantes objetivarem que seus motores consumam sempre menos, que sejam muito mais silenciosos, que os materiais degradantes de fabricação sejam substituídos, esse não é o foco da Boeing, Airbus, Embraer ou de qualquer outra empresa do ramo de construção e vendas de aeronaves. Isso tudo leva custo, custo alto, alto o suficiente pra exigir que determinados modelos sejam vastamente vendidos para que haja um dólar de retorno financeiro para a empresa. Seja qual for o projeto, ele precisa se pagar.

O custo de projeto do Boeing 787, por exemplo, atingiu 32 bilhões de dólares. A empresa só terá algum lucro após recuperar o valor investido. Se o projeto precisa dar retorno a longo prazo, como um empresa terá esse retorno se investir seu total de tecnologia e, contados 3 anos após o lançamento do avião, aparecer uma diretriz da ICAO limitando ou impedindo a operação desse modelo? Quando a ICAO decide por uma nova lei internacional, ela não está muito preocupada com os prejuízos ou os lucros a longo prazo das fabricantes. Essas leis provêm de acordos internacionais, e estão muito pouco ligadas ao comércio aeronáutico.

Dessa forma, é muito claro que as empresas não querem investir toda sua tecnologia em um avião que, futuramente, corra o risco de perder sua lucratividade ou sucesso comercial, devido a sanções de operação. Em outras palavras, assim como a ICAO não está se preocupando com o lucro das empresas, elas também não estão muito atentas aos reais benefícios que as novas diretrizes trazem, sejam estas ambientais ou sociais. O foco real das fabricantes é fazer um avião moderno, acima da média, onde se possa conquistar uma boa parcela do mercado, prometendo redução de custos operacionais, maior lucro e, claro, menores riscos de prejuízos. O que dita o tempo das inovações não é o mercado ou a possibilidade tecnológica, mas sim o retorno que quem investe tem.

Apesar dos novos jatos não serem tão novos assim, e do meio ambiente não ser quem mais ganha nisso tudo, o que se vê são avanços outrora não possíveis e acessíveis à aviação. Nem tudo é perfeito. Falhas virão, mas enquanto houver falhas, significa que coisas serão melhoradas, inovadas. Enquanto houver o novo, significa que ainda é possível melhorar ainda mais no que parece ser o limite.

Eduardo Mateus Nobrega
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