Prático de Piloto Privado 35

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Saudações Comandos.

Após aprovado na manobra 360º na Vertical, chegou à vez de fazer a manobra PS12 – Emergências no Circuito.

Uma manobra que te deixa um pouco apreensivo, mas que é necessário ser feita e aprendida.

Cheguei ao aeroclube cedo, fiquei observando e lembrando os voos anteriores e os lugares livres que poderia pousar em caso de pane.

Tomei café da manha, inspecionei a aeronave e fui ao briefing. O instrutor me pediu todos os cheques:

  • Pane acima de 500’ AGL;
  • Pane abaixo de 500’ AGL;
  • Cheque de reacionamento;
  • Cheque de aterragem sem potência
  • Pane na decolagem;
  • Fogo no motor em voo;
  • Fogo no motor em solo;

Aproveitando a oportunidade, o instrutor também me pediu o briefing de decolagem. Nunca nenhum instrutor me pediu para estudar mais, sempre estive com toda teoria na ponta da língua.

Começamos a conversar como seria a manobra. Ele iria dar pane o tempo todo e nos piores momentos. Tanto pane completa ou pane parcial.

Caberia o aluno analisar a situação e decidir se pousa na cabeceira oposta ou na cabeceira normal de decolagem.

Caso pane logo após a decolagem, temos no cheque para pousar à frente ou ao lado se possível. Não podemos efetuar curva acentuada e nem voltar para pista. Nem se quisemos, conseguiríamos.

Acima de 500’, já temos mais tempo para pensar e talvez conseguir pousar na cabeceira oposta, graças ao vento de cauda (diminui o ângulo de planeio, mas aumenta a distância).

Pane no través, voltamos para cabeceira oposta. Na perna do vento, fica a critério dependendo da posição. Na base e final, já é mais tranquilo.

Notificamos e fomos acionar. Na caminhada até a sala AIS, conversando com o instrutor fazia um mês que ele não voava devido a férias ou algo do gênero que não me recordo:

“Vamos fazer o primeiro circuito de boa, que aí nós sentimos como está atmosfera e eu já vou me readaptando ao Paulistinha”.

Acionado, pedi para o instrutor fazer a taxi, caso queira, com isso já iria se adaptando ao Paulistinha novamente. Chegando a cabeceira eu dei aquele grito que nunca nenhum aluno falou para o instrutor: Tá Comigo”.

Demos risada, e alinhei a aeronave na cabeceira 16 e completei motor. Logo após a cabeceira já temos um condomínio de casas e nenhuma rua larga ou comprida o suficiente para pousar em caso de pane.

Subimos até 500 pés e nenhum espaço bom, ficava imaginado que em caso de pane real, realmente seria muito complicado sair inteiro. Como ficou acordado que no primeiro circuito não teríamos pane, fiquei menos apreensivo. Mas estava nervoso e o tempo todo imaginando onde poderia pousar e se chegaria ao local. Passei a observar se tinha aclive, declive, obstáculos ou não.

Ingressei na perna do vento a 1000 pés, respirava mais tranquilo e já sentia mais segurança em caso de pane, pois sabia que conseguiria chegar tranquilamente na cabeceira oposta. Fiz toda perna do vento, base e final.

Toquei, controlei no solo, completei motor e arremeti. No momento que decolei, começou a descarga de adrenalina. Estol era a manobra mais nervosa do curso, até chegar nas emergências.  Todo momento eu pensava. –E se der pane agora? Onde vou pousar? Será que chega? Dá para voltar para pista? O Momento passava, nada acontecia, 10 segundos depois voltava os pensamentos, cada vez pior.

“Ele não deu pane antes, significa que pode dar pane agora. E se der pane agora? Onde vou pousar? Será que chega? Dá para voltar para pista?” E ficava nesse ritmo frenético.

Ganhava altura, mas não se via nenhum descampado, casa para todos os lados, alguns prédios, ruas estreitas, o aeroporto lá atrás e eu continuava baixo. Nesse momento percebi o quanto altura é primordial para sobrevivência e tranquilidade. Só enquanto escrevo esse texto, consigo lembrar que até a respiração estava ofegante.

Chegando entre 500’~600’, já conseguia ver um descampado que deveria ser uma fazenda, em aclive, pensei comigo que era lá para onde iria caso acontecesse algo. Rodei perna do vento, via a pista a minha esquerda, altímetro marcava 3900’, senti-me mais tranquilo, a situação já estava dentro da minha normalidade, qualquer pane, voltaria para a cabeceira oposta.

Instrutor me diz Se der pane real agora, o que você vai fazer?” – “Vou cravar em 65mph, pousar na cabeceira oposta e você vai chamar na rádio pedindo prioridade para pouso, porque tem mais três aeronaves no circuito”. Não esquecendo os cheques de reacionamento e aterragem sem potência.

Continuamos na perna do vento. Próximo do ultimo terço ele retirou todo motor e gritou pane. Alonguei um pouco a perna do vento, rodei base e final. Não podia dar rajadas no motor, mas deixei o ar quente aberto para evitar gelo no carburador.

No 360º na Vertical, nós treinamos para tocar no primeiro terço da pista. Já em Emergência o importante é chegar à pista, pode ser até nos últimos 100 metros, contanto que você freie e saia inteiro, está ótimo.

Na duvida e emergência sempre chegue alto, qualquer momento você glissa e chega à pista. Mas garanta o pouso.

Nessa filosofia, rodei base curta e cheguei alto. Toquei, controlei no solo, completei motor.

Levantei a cauda, velocidade chegando a 55 mph. Pane, mantive a cauda levanta o máximo possível e fui controlando o eixo nos pedais, mas chegou um momento que os pedais não estavam funcionando mais, dava pedal até o batente e nada da aeronave voltar e ela estava indo em direção a grama. Nesse momento colei o manche e dei pedal, a bequilha toca ao solo e consegue-se controle novamente.

Livrei, pois não tinha mais pista para decolar e voltei ao ponto de espera. Alinhei, completei motor, levantei a cauda e pane de novo, mantive a cauda levantada até os pedais perderem efeito. Colei o manche e livrei na intersecção mais próxima, de volta ao ponto de espera.

Alinhei, completei motor, tirei do chão, subi uns 50 pés, pane, nessa pane não se tem tempo de pensar, é reação automática, pois não tem nem como fazer os cheques. Quando tive pane, abaixei o nariz para ver a pista, deixei o avião afundar, quebrei o planeio, arredondei e toquei. Livrei na intersecção e voltei ao ponto de espera.

Alinhei a aeronave e decolei. Novamente os pensamentos, – E se der pane? Será que chega? E todos outros. Rodei perna do vento, mantive o circuito até a metade e tomo uma pane.

Pensei que estava tranquilo, era só manter o circuito, rodar base e final, já estava familiarizado com aquela situação. Só que não me atentei ao um vetor chamado vento.

Ele me empurrou para longe da pista e não senti, quando rodei base a pista estava longe, aí veio o desespero. Mesmo sabendo que era algo simulado, meu corpo reagia como se fosse algo real, e imaginado que se fosse real, eu teria feito o pior e talvez o último erro da minha vida.

O Avião afundava, a pista ficava longe, o instrutor me perguntou: “Vai chegar?”.

-Vai. Respondi.

Mantei a velocidade de 65mph para 60mph, com o intuito de planar mais.

O instrutor pergunta: “Vai chegar?”.

-Vai. Respondi, mesmo não acreditando mais no que estava falando.

Trouxe para 55mph – Melhor razão de planeio do Paulistinha.

O instrutor pergunta: “Vai chegar?”.

Não queria desistir, mas não tinha altura e muito menos velocidade. Não tinha o que fazer.

Completei o motor, até restabelecer a rampa ideal. Tirei motor e vim no planado até a pista.

O instrutor diz: “Não ia chegar, né”.

Eu: -Não ia, mas estava fazendo máximo possível para tentar chegar.

Pedi desculpas, reconheci meu erro, toquei na pista e arremeti. Ultimo circuito, pane na perna do vento,

Aeronave afundava, eu atento com o vento.

O instrutor em tom irônico: “Vai chegar?”.

-Vai. Respondi.

O instrutor novamente irônico: “Quero só ver, dá ultima não chegou”.

Cravei 65mph, encurtei a base e toquei três pontos.

Taxiei até o pátio, cortei motor, respirei fundo e aliviado Ah, estou vivo”.

Voo de maior adrenalina e medo até agora, para uma simulação, foi bem real.

Ver os prédios perto não é nada agradável.

Fomos ao debriefing, todos os cheques foram feitos de maneira correta, sem esquecer nenhum procedimento. Todos os pousos foram tranquilos, bem aplicados. Somente um circuito eu não iria chegar, recebi algumas criticas, junto vieram as correções que deveria fazer e como proceder. Os instrutores te criticam com intuito de mostrar o erro, corrigir e te ensinar:

“Não precisa fazer a manobra novamente, só de ter passado pela sensação, você já aprendeu como fazer. Os outros procedimentos e panes estavam perfeitos”.

Aprovado na manobra. Voltei para casa.

Próxima PS13 – Correções, Liberação para o 1º Solo.

Velocidade e altura, preserva a dentadura.

Boa semana a todos.

Renato Cobel
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