Olá leitores do Canal Piloto!
As duas últimas colunas falaram sobre os eixos de movimentação do helicóptero e dos eixos de movimentação das pás. Também anteriormente falamos das diferentes configurações de rotores e tipos de rotores que existem. Todos esses assuntos são necessários para o assunto que iniciaremos hoje: os comandos de controle de um helicópter
Somente para efeito de analogia: os comandos básicos de vôo de um avião são o manche, os pedais e a manete de potência. Já o helicóptero possui os seguintes comandos de vôo:
Os comandos de vôo do helicóptero – visão externa.
Os comandos de vôo do helicóptero – visão lateral.
- Cíclico: controla o ângulo de incidência (passo) das pás do rotor principal de maneira setorizada. Utilizado principalmente para ganhar ou perder velocidade e fazer curvas, ou seja, controla a atitude da cabine. É análogo ao manche dos aviões, embora o funcionamento mecânico e os resultados aerodinâmicos sejam totalmente diferentes;
- Coletivo: controla o ângulo de incidência (passo) das pás do rotor principal de maneira conjunta. É utilizado principalmente para ganhar ou perder altitude;
- Pedais anti-torque: Permitem o giro no eixo vertical quando o helicóptero está no vôo pairado ou no táxi. Em rotores de configuração simples são necessários para contrariar o torque aplicado à fuselagem pelo giro do rotor principal. Diferentemente dos aviões, nunca são utilizados para curvas em vôo com velocidade;
- Manete de potência: controla a potência do motor, analogamente a manete de potência do avião.
Todos os helicópteros, independente de sua configuração do rotor e tipo do rotor, possuem os mesmos comandos de vôo e os mesmos movimentos possíveis. Os comandos são totalmente duplicados para piloto e co-piloto, diferente dos vários aviões que compartilham as manetes de potência que estão na posição central da cabine para ambos os pilotos. No helicóptero, ambos os pilotos têm:
- Cíclico na mão direita, estilo joystick (parecido com o avião Diamond DA20);
- Coletivo na mão esquerda, com o movimento “para cima e para baixo” análogo a um freio de mão automotivo;
- Manete de potência na extremidade do coletivo (também mão esquerda), com o movimento semelhante a um acelerador de motocicleta;
- Pedais – obviamente – nos pés que, assim como nos aviões, ao empurrar para frente um pedal, o outro se movimenta para trás, e vice-versa;
É importante entender que os comandos têm uma função primária e uma secundária. Podemos entender a função primária sendo aquela que é a principal do comando, e que afeta mais incisivamente os parâmetros de vôo. A função secundária, por sua vez, pode ser considerada “efeito colateral”, e geralmente afetam os parâmetros de vôo em menor grau do que as funções primárias. Nota: por “efeito colateral” não imagine que são sempre efeitos negativos, pois algumas vezes são efeitos positivos e desejados.
Para entender melhor as funções primárias vs. secundárias vamos pegar como exemplo o comando cíclico: quando o helicóptero está no pairado, o rotor principal gera sustentação necessária para contrariar o peso do helicóptero, e assim ficar parado no ar sem descer e nem subir. Para iniciarmos um deslocamento à frente colocamos o cíclico um pouco à frente, e o rotor principal se inclina transformando uma parte da sustentação em tração à frente. Logo, o helicóptero começa a ganhar a velocidade que desejamos (tração), mas perde um pouco de altura por conta da sustentação ligeiramente menor. Podemos dizer, então, que o cíclico é primário de velocidade e secundário de altitude pois foi através do cíclico que alteramos o parâmetro de vôo (velocidade), com um efeito colateral de uma pequena queda de altitude. Obviamente essa pequena queda de altitude é facilmente corrigida utilizando o coletivo, que é primário de altitude (e de Pressão de Admissão). Veremos nas próximas colunas os detalhes de cada um dos comandos juntamente com suas funções primárias e secundárias, mas aqui vai um resumo para helicópteros à pistão:
|
Comando |
Primário |
Secundário |
Eixo do Helicóptero |
|
Cíclico |
Velocidade |
Altitude |
Longitudinal Lateral |
|
Coletivo |
Altitude Pressão de Admissão |
RPM |
– |
|
Pedais anti-torque |
Giro no pairado / táxi Opor efeito torque na fuselagem* |
– |
Vertical |
|
Manete de potência |
RPM |
Pressão de Admissão |
– |
* Para helicópteros cuja configuração de rotor é simples. Os demais não necessitam dessa aplicação.
Muitos helicópteros possuem sistemas conjugados de coletivo/manete ou até mesmo governador, que são sistemas que auxiliam o piloto a manter a RPM do rotor principal sempre dentro da faixa de operação recomendada mesmo com as várias alterações de ângulo de ataque que as pás realizam. O sistema conjugado é exclusivamente mecânico e é capaz de fazer um ajuste grosseiro enquanto que o governador é eletrônico, capaz de realizar o ajuste fino dos parâmetros. Esses sistemas diminuem a carga de trabalho do piloto e os detalhes serão vistos em uma próxima coluna.
Para evitar que a coluna de hoje fique demasiadamente longa e cansativa, optei por fazer essa breve introdução do assunto e veremos muitos detalhes de cada um dos comandos e sistemas nas próximas colunas. Por ora, os vídeos a seguir dão uma idéia do uso geral dos comandos do helicóptero:
A coluna de hoje termina por aqui. Na próxima coluna veremos os detalhes do comando cíclico.
Um grande abraço e bons vôos,
Renan Montebelo
renanpolo@gmail.com
