Para entender o comportamento de determinado tipo de avião, não precisa ser um piloto experiente em voo, com centenas de horas naquela aeronave. Basta reparar nos conceitos que fazem daquele avião o que ele é. Como imaginar, por exemplo, o desempenho em voo de uma aeronave feita para manobras? Ela precisa ser instável, rápida, e não precisa ser muito confortável. Basicamente, é preciso reparar no que o avião precisa fazer, e a partir daí, pressupor determinados aspectos. Podemos usar o mesmo método para avaliar como a aeronave que voamos irá se comportar em determinadas situações. Assim, é possível se antecipar a algumas emergências, e pensar em como reagir a elas.
Atualmente, os manuais e treinamentos específicos nos trazem esses padrões. Mas o que isso tem a ver com o mito envolvido em um voo monomotor em aeronave multimotora? Como dissemos, cada caso é um caso. Não é possível criar uma regra geral para todo comportamento de aeronaves bimotoras em uma pane, ou perda do motor crítico na decolagem. Isso é algo realmente muito variável. Então, para avaliar o comportamento de certa aeronave durante uma emergência específica, e nas condições que nós voamos no Brasil, é necessário que se siga sempre essa lógica.
Ao voar um modelo de avião, seja mono ou multimotor, você nunca estará preparado para lidar com todas as reações da aeronave – até por que, isso requer experiência, o produto mais caro na aviação. Desse modo, antes de mistificar que este ou aquele avião é mais seguro por possuir um recurso a mais, é preciso avaliar como esse recurso pode afetar negativamente o voo em uma emergência. É o caso, por exemplo, do grande questionamento que há sobre o fly-by-wire e a automatização de certas tarefas. Alguns são totalmente contra essa prática, e outros, radicalmente a favor. Mas como exposto aqui, é preciso entender e avaliar como esse equipamento pode afetar a aeronave numa real emergência. O mito da maior segurança que envolve aeronaves bimotoras funciona da mesma maneira: é preciso avaliar cada caso frente a cada performance dos modelos, mas tomar por padrão algumas “leis” do voo também é útil.
É lógico que qualquer aeronave em pane estará sujeita a determinadas adversidades. Mesmo sendo o jato mais moderno, ele sofrerá em algum ponto em relação à sua performance. Assim, dizer que um bimotor está à frente de uma aeronave monomotora, por possuir uma “segunda chance” de manter o voo diante de uma perda de motor, é o mesmo que dizer que um monomotor vai sempre “cair” mais devagar quando o mesmo ocorrer com este.
Tudo vai depender da sua aeronave e da sua habilidade de lidar com a pane. Um motor a mais pode simplesmente servir para levar a sua aeronave até o local do acidente, ou fazer a diferença proporcionando um pouso posteriormente. O mais certo é jamais acreditar que o avião que você voa mudará sua sorte numa emergência. Isso somente o piloto e seu conhecimento podem fazer, seja em um avião mono, multi ou mesmo sem motor algum.
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