Voo Solo: Aspectos Técnicos

Na semana passada, pude compartilhar com vocês minhas impressões sobre a experiência do primeiro voo solo. Por se tratar de um momento muito emocionante na carreira de um piloto, abordamos inicialmente os aspectos psicológicos que envolvem essa experiência. No entanto, também há aspectos técnicos que devemos levar em conta, para descrever essa experiência em sua totalidade. Baseado em minha própria vivência desse momento, vamos a alguns fatores que exigiram minha atenção, e que podem ser encontrados por aqueles que, futuramente, também venham a passar por seu primeiro solo:


Condições Meteorológicas Adversas

O primeiro voo solo de um aluno pressupõe condições atmosféricas calmas, além logicamente do cumprimento dos mínimos para o voo visual: teto de 1.500 pés, e visibilidade horizontal igual ou superior a 5 Km. No meu caso em específico, o horário e a temperatura foram atípicos para um primeiro voo solo. Com a hora estimada fora dos calços prevista para o meio-dia, a temperatura marcava 32 graus, proporcionando uma atmosfera mais agitada do que eu esperaria para o momento.

Algumas correntes convectivas, por vezes, incidiam apenas sob uma das asas, dando a impressão de que “virariam” a aeronave, por mais improvável que isso fosse. A velocidade do vento, em torno de 8Kt, possuía uma componente de través que me levou a perder o eixo na decolagem, e “embarrigar” a curva da perna base para a perna final, ambos para o mesmo lado da pista. Uma condição talvez tranquila para pilotos mais experientes, mas certamente desafiadora para quem lidava com a pressão psicológica de voar sozinho pela primeira vez.


Solicitação de Manobras Inesperadas

Quem conhece a região de Jundiaí, onde realizei o meu primeiro voo solo, sabe que a cabeceira 36 do aeródromo possui um obstáculo natural próximo a ela: a Serra do Japi. Por ser esta a cabeceira em uso, não haveria a possibilidade de maior prolongamento da perna do vento, antes de curvar para a perna base.

Em virtude de um tráfego adiante, recebi a solicitação de prolongar a perna do vento, em direção à elevação da Serra, mesmo reportando ser aluno solo. Como alternativa, foi-me oferecido um 360 pela esquerda, já durante a descida para o pouso, em atmosfera agitada. Novamente, as manobras poderiam ser mais simples em outras circunstâncias. Porém, na condição de aluno solo, precisei negá-las e curvar para a perna base mantendo separação visual da aeronave à frente, com o consentimento da torre. Por mais que negar uma solicitação do controlador não me agradasse, a prioridade é da segurança de voo, dentro do que nos é capaz de executar.


Informe sempre ser “Aluno Solo”

Como é nossa primeira experiência como piloto em comando, é fundamental agregarmos a expressão “aluno solo” às nossas comunicações, principalmente nos reportes compulsórios das posições críticas. Isso visa conscientizar os controladores de nossas limitações, de forma a nos conduzir dentro do que somos capazes de executar, bem como de manter as demais aeronaves presentes no tráfego devidamente separadas e cientes.


Por fim, o voo solo nos deixa uma importante lição: por mais que tenhamos decolado e pousado por conta própria, ainda somos aprendizes. É preciso reconhecer nossas limitações e dividi-las com nossos instrutores, no intuito de que possamos trabalhá-las em conjunto. Vencemos uma importante etapa, mas ainda não conquistamos os céus.

Luiz Cláudio Ribeirinho
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