Voo Solo: Passando de Aluno a Piloto

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Dizem os observadores da natureza que as águias, quando notam que seus filhotes já estão prontos para voar, lançam-nos dos ninhos ainda que contra a vontade deles. Sem entender muito bem o que se passa, os filhotes caem por alguns instantes, até se darem conta do que são capazes.

Nesse momento, abrem as asas e, ainda confusos com a habilidade recém-descoberta, ganham os céus vitoriosamente, passando a um novo estágio de sua maturidade.

Não seria exagero dizer que voo solo tem o mesmo significado na vida de um aluno piloto. Habituados à segurança da companhia do instrutor, no voo solo somos colocados à prova de gerenciar o voo e controlar os seus riscos, sem que haja alguém mais experiente ali ao lado, a quem possamos recorrer. Do ponto de vista do instrutor, “solar” um aluno exige a confiança de um trabalho bem feito, e a certeza de que aquele aprendiz está pronto para voar com as próprias asas. Por fim, a experiência se torna uma vitória para ambos.


Como é o voo solo

O primeiro voo solo pode ser comparado ao primeiro passeio de uma criança em uma bicicleta sem rodinhas, ou àquela primeira volta no quarteirão de um motorista recém-habilitado: você sabe o que precisa ser feito, apenas nunca o fez por conta própria. Você se sente inexperiente para a tarefa, faz tudo com uma certa timidez, mas não há outra forma de construir experiência senão enfrentando esses desafios.

Pode parecer cruel num primeiro momento, mas o voo solo é fundamental na construção da autoconfiança de um piloto. Muitas escolas optam por oferecer o “solo assistido”, onde o aluno voa na companhia de um instrutor no papel de “safety pilot”, com a intenção de intervir apenas no caso de necessidade extrema. Esse, na verdade, deve ser o papel do instrutor nas aulas que precedem o voo solo. A escola precisa demonstrar confiança na instrução que oferece, e o aluno deve ter ciência de que não poderá levar o instrutor consigo para sempre.

Uma vez lá em cima, com a aeronave estabilizada, o que antes era somente insegurança começa a ganhar tons de vitória. Olhando para a esquerda, o aluno vê a imensidão do mundo que conquistou. Olhando para a direita, o banco vazio mostra que a presença do instrutor ganhou uma nova forma: a de uma voz que agora vem de sua mente, e continua dizendo o que deve e o que não deve ser feito. Olhando adiante, os comandos sobre os quais pousam apenas um par de mãos deixam uma mensagem clara: a aeronave está inteiramente sob o seu controle.


De volta ao chão

A hora da verdade vem com o momento de pousar a aeronave. Decolar é muito bom, mas voltar ao solo em segurança é a verdadeira prova de controle da situação. No final, é tudo questão de fazer o que sempre foi feito em aula, e perceber que sozinho você já estava: apenas foi preciso a ausência do instrutor para que seu subconsciente entendesse isso. Por isso voar solo faz do aluno um piloto, tal como o lançamento do ninho faz do filhote uma águia madura.

Luiz Cláudio Ribeirinho
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