A Vida de um Futuro Piloto 03

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E aí Cmtes, tudo tranquilo? Maravilha!

Chegando à perna base, começamos o check de aproximação: ligar os faróis de pouso, abrir o aquecimento do carburador assim que entrar em marcha lenta, checar a mistura rica, verificar os instrumentos e checar freios e cintos. Tudo normal, prosseguimos para a final. A primeira aproximação não foi muito legal, a nossa perna do vento tinha ficado muito próxima da pista, e o VIE insistia em ficar subindo e aumentado a velocidade, mesmo com potência reduzida. No final, enquadrei a pista, e fizemos o primeiro toque e arremetida do dia.

No geral foi um bom pouso, apesar de ter tocado com a velocidade um pouco mais alta por conta da final muito alta, o pouso foi aceitável. Dei potência e em menos de 5 segundos já estávamos no ar novamente. Fechei o aquecimento e comecei a subida para a altitude de tráfego novamente. Cruzando 300 FT AGL, fiz o check pós-decolagem e cruzando 500 FT AGL, novamente optei por voltar à pista em caso de pane.

O dia estava tão tranquilo que a torre nem fez a fonia padrão pós-arremetida. Chegando ao través da 13 novamente e nada de comunicação da torre. No dia anterior, já tinha ouvido relatos de falha no rádio do VIE e já estava me preparando para pousar com sinais luminosos. De qualquer forma, perguntei para a Patrícia se devia comunicar a torre que já estava no través. Ela afirmou e lá fui eu:

– Torre Londrina, VIE no través da 13, autoriza girar base?
– Afirmativo VIE. Autorizado toque e arremetida, vento 120/09Kt, QNH 1024.
-Ciente VIE.

Na primeira aproximação eu tinha me esquecido de fazer os call outs de pouso, que são os mesmos que o pré decolagem: final, pista e oposta livres. Desta vez a Patrícia me lembrou e fiz todo o procedimento novamente. Desta vez fiz a perna do vento mais aberta, e comecei a girar a base um pouco mais afastado da pista para conseguir fazer uma aproximação mais segura e tranquila.

Agora comecei a fazer todo o circuito em retângulo, para uma melhor referência da pista. Ingressei na final e lá fomos nós para o segundo toque. Desta vez o toque foi mais suave, alinhado e seguro. Potência total novamente e logo estávamos no ar. Chegando ao través, recebemos a seguinte fonia da torre:

– VIE, seria possível um tráfego curto para a 13?

Olhei para a instrutora e ela afirmou.

– Afirmo VIE.
– Ciente VIE, autorizado toque e arremetida, vento 120/10KT, QNH 1024.
– Autorizado toque e arremetida, VIE.

O tráfego curto foi solicitado, pois havia um King Air na final, porém estava um pouco afastado, se realizássemos o tráfego curto, conseguiríamos tocar e arremeter com segurança antes do pouso do King Air. E assim fizemos, realizamos o check rápido, call outs e começamos o tráfego curto. O tráfego curto é uma manobra para efetuar o circuito de forma mais rápida, começando a girar a base praticamente paralelo à pista e já nivelar em cima da mesma para pouso.

Eu já tinha feito esse procedimento uma vez em uma das aulas anteriores. Nivelei em cima da pista, com boa altitude, velocidade e alinhamento. Um toque suave completou o 3o TGL do dia. Entramos no circuito de novo e comecei a procurar o tráfego na pista e nas taxiways.

Não achei e logo deduzi: Ele ainda não pouso. Estávamos praticamente no través quando o avistei na curta final. Solicitamos girar base após o tráfego e a torre nos autorizou. Mantivemos uma distância segura do tráfego a fim de entrar na final e conseguir realizar o toque após o King Air livrar a pista. Assim o fizemos.

Porém, como o tráfego tinha acabado de livrar, peguei um pouco da esteira de turbulência dele e praticamente na hora do toque fui atingido por ela. Isso fez com que o pouso fosse um pouco brusco, o chamado catrapo. Olhei pra Patrícia e falei: “Meio brusco né?”. Ela me deu um sorriso e disse: “Acontece”. Fiquei sem graça, mas não posso me culpar, era meu primeiro treinamento de TGL.

Durante a subida para o circuito, ela me deu uma dica preciosa. Quando estiver para pousar e por acaso pegar uma esteira de turbulência ou um vento de través, aplicar motor a fim de ser manter no ar, consertar o eixo e fazer um pouso suave. Prosseguimos para mais um toque e este foi o 5o do dia. Um toque suave também. Já estava me empolgando com a ideia de fazer só pousos suaves.

Assim que entramos na perna do vento, fomos notificados de mais um TRIP vindo para pouso. Ele já estava baixado e travado na longa final, não tinha possibilidade de fazer um tráfego curto como na vez do King Air. A torre nos instruiu continuar na perna do vento. Porém, como já estávamos praticamente no través da 13 e não tínhamos avistado o tráfego, solicitei à torre:

– Torre, autoriza o VIE a realizar um 360 pela direita a fim de aguardar o tráfego na final?
– Afirmo VIE, 360 pela direita.

Patrícia olhou pra mim, mas não falou nada. Mas o olhar dizia tudo: “Muito bem, bela escolha”. O 360 é uma manobra que envolve fazer um círculo no ar, uma volta completa, usada para “perder tempo” e esperar o tráfego. Se continuasse na perna do vento até superar o tráfego na final, perderíamos a referência com a pista. O 360 nos faria ficar próximos da pista e aguardar o TRIP pousar para prosseguirmos para o pouso.

Terminando o 360, avistamos o TRIP e avisei a torre. Ela nos autorizou a prosseguir como número 2 para TGL, mantendo uma distância segura do tráfego. Assim o fizemos. Ingressamos na final, checks e call outs todos realizados e alinhados com a pista. Observamos o TRIP livrar na taxiway D quando estávamos a 500 FT AGL.

Prossegui para o TGL normalmente e desta vez, novamente fui pego pela maldita esteira de turbulência. E lá se foi mais um toque ‘catrapo’. Eu tinha que me redimir. Ela tinha me ensinado a me livrar desse “empecilho” e eu não tinha conseguido. Prosseguimos para mais um toque e arremetida e desta vez, já arredondando para o pouso, fui pego por um pequeno vento de través, que já ia me jogando para mais um catrapo. Desta vez me atentei para isso e apliquei a potência a fim de manter o avião no ar e suavizar o pouso, bem como corrigir o eixo.

Dito e feito, o avião flutuou um pouco mais, alinhei e fiz mais um toque bom, não tão suave quanto os outros dois que havia feito, mas considerado bom pela instrutora. Levantei voo para o último circuito e prossegui para pouso final. Tudo transcorreu sem problemas, sem esteira de turbulência e sem vento de través. Um pouco bom novamente. Ainda pode melhorar, mas para a primeira aula, está de bom tamanho. Livramos na C e prosseguimos no taxi pela E.

Reportamos ingressando no pátio e a torre nos autorizou o taxi até o pátio do aeroclube. Paramos na última posição de estacionamento, efetuei o check de corte e deixamos a aeronave. Peguei minhas coisas de dentro do avião, juntamente com o diário de bordo e a chave e partimos para o debriefing, uma conversa sobre de como foi o voo, aspectos a melhorar e um overall do voo como um todo. Antes, porém, observamos que o óleo ainda continuava vazando.

Ao checar a quantidade de óleo novamente, notamos mais uma perda significativa durante o voo. Desta forma, os instrutores decidiram cancelar os voos do VIE para que fosse feito o reparo no vazamento. Voltando ao debriefing, modéstia a parte fui muito elogiado pela Patrícia.

Ela mencionou a firmeza que tenho na fonia e na pilotagem da aeronave. Relembrou os toques que me deu durante o voo, como a quebra do planeio e o calço do motor quando sofrer a ação da turbulência ou do vento de través e comentou sobre os pousos. Fora os dois mais bruscos, os demais foram bons, contando ainda com dois pousos suaves. Fizemos 7 toque e arremetida e um pouso completo. A minha opinião sobre o voo foi que foi um ótimo voo, para o primeiro treinamento de TGL acho que atingi o objetivo e também aprendi muito.

Gostei muito da instrução da Patrícia, muito boa instrutora, calma, além de gente boa e simpática, como já disse no começo do texto. Saí de lá satisfeito com meu desempenho, porém com um gostinho de que sempre é possível melhorar. Agora o que me resta é esperar pela próxima aula, que é dia 14/09 e melhorar ainda mais os pousos a fim de conseguir toques mais macios e confortáveis. Como é o mesmo treinamento, não vai ter muita coisa diferente, porém, nunca se sabe, não é mesmo?

Espero que tenham gostado e até o próximo relato ;)

Futuro Piloto

Fábio Miguel

Renato Cobel
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