Dúvida – É mais fácil arrumar emprego como comissário ou como piloto?

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Seguindo com nossa série sobre dúvidas quanto a formação aeronáutica, vamos responder à pergunta de hoje:

Duvida

Oscar Lima Alpha,

Meu nome é Igor, tenho 15 anos, sou de Taboão Da Serra – SP (perto de Embu das Artes).

Então, minha pergunta sobre o Teórico de PP, é que quero fazer em Jundiaí mas moro longe de lá, minha família não tem carro, então enquanto estiver fazendo o teórico de PP , o alojamento do aeroclube é grátis, se for, posso dormir lá quantas vezes por mês ?.

É mais fácil conseguir emprego em companhias aéreas , como co-piloto ou como comissário ?

Sobre o CP Cast 19 – Comissário de Bordo , vocês falaram que o comissário é contratado ” sem experiência ” prática pela companhia , quais são as companhias que mais contratando comissários em SP ?

Desde já agradeço

Nossa resposta

Igor,

Alguns aeroclubes cedem o alojamento aos alunos que estiverem fazendo o treinamento prático e teórico, seja do PP ou do PC. A grande maioria dos aeroclubes cobra uma taxa dos alunos para uso desse alojamento, que varia de aeroclube para aeroclube. Aqui em Jundiaí, a única escola que tem alojamento e cede aos alunos é o Aeroclube de Jundiaí. A EJ tem parceria com algumas pensões próximas ao aeroporto de Jundiaí. Entretanto, em Itápolis, na outra base da EJ, há alojamento dentro do aeroporto. Esse alojamento é da EJ e do Aeroclube de Itápolis.

Sobre a carreira de comissário, muitos pilotos de hoje começaram a sua carreira na aviação trabalhando como comissários, e após alguns anos, conseguiram checar as suas carteiras. Para conseguir entrar no mercado como comissário, realmente não é necessário experiência. Porém, é fundamental a aprovação na banca da ANAC de CMS, ter o CMA de 2°classe, e hoje é essencial também ter fluência no inglês e domínio no espanhol. As empresas que hoje estão contratando são a Azul e a Avianca.

Nas linhas abaixo, coloco o depoimento de minha colega Ilka Lola, que hoje é co-piloto da Azul e no começo foi comissária.

“Na verdade eu sempre quis ser piloto, mas achava que isso era coisa só de meninos. Pra mim, meninas eram aeromoças e meninos eram pilotos. Nunca fui incentivada, mas vivia fazendo voos num aeroclube próximo à minha cidade, num ultraleve de pano.

Fiz o curso de comissária em 2001, quando aconteceu o atentado de 11/09. Meu curso começou em Agosto, e a aviação bateu a porta na minha cara. Fiquei apaixonada pela profissão e decidi ver como era antes de iniciar, quem sabe um dia, o curso de piloto.

Trabalhei em banco, e quando fui renovar minha licença de saúde, em 2006, conheci um piloto que me ajudou na aviação. Ele também havia sido bancário e resolveu me indicar na Gol para ser comissária.

Fiz seleção na Gol por volta de maio de 2007, e em junho recebi a resposta. Na agência do banco que eu trabalhava, houve uma re-classificação. Foi constatado que era necessário cortar um funcionário. Minha chefe conversou comigo de manhã, sem me contar isso. Por volta de 15h, a Gol me ligou perguntando se eu queria fazer parte da turma 74 de comissários.

Avisei minha chefe que eu precisava pedir as contas naquele dia, e fui mandada embora do banco.

Isso foi numa sexta-feira. Na segunda-feira, eu iniciava meu curso na Gol. Tinha uma semana pra mudar minha vida. Procurei lugar pra morar em São Paulo. Fui morar na pensão da dona Ana, uma senhora também do interior que me acolheu por 1 ano.

Me apaixonei pela aviação desde o primeiro dia. Num dos voos que eu fiz, com poucos meses de empresa, conheci a Fernanda Prieto. Na época ela era copiloto, hoje é comandante e uma das meninas que mais admiro na aviação. Ela me incentivou muito a começar.

Comprei a coletânea de CDs do efly e passei a estudar em todo pernoite. Fui aluna na EACON na parte de navegação, pois não entendia direito o tal do pé de galinha.

Só comecei a voar depois que fiz a minha banca da Anac. Passei de primeira, mas me dediquei por 7 meses sozinha, sem balada, sem sair em pernoite, só estudava. Na época não era exigido o curso em escola homologada.

Conheci um outro piloto, o Paulo Braga, que me arrumou um Cessna 150 em Goiânia pra eu voar, do aeroclube de Goiás. Seu prefixo era PR-RST. Infelizmente eu não tinha muita sorte, porque minhas folgas batiam com as revisões do avião. Muitas vezes, perdia viagem indo pra Goiânia voar. Mas em um ano chequei o PP.

O dinheiro também não dava pra ser mais rápido, estava guardando para o PC. Vendi meu carrinho e consegui férias para fazer o curso do PC na EJ. Guardando dinheiro ainda, no final do curso teórico, me foi oferecido continuar a parte prática na EJ. Arrumei dinheiro com toda minha família, minhas reservas cobriam apenas 1/3 do que eu precisava pra pagar o curso prático.

Paguei o curso em 5 prestações, demorei mais um ano pra checar. Mas fiquei muito contente na escola porque não perdia a viagem, só por meteorologia fiquei no chão. Chequei PC prático e consegui outras férias pra fazer o INVA.

Quando terminei o INVA teórico, fiz a prova e decidi me dedicar totalmente à carreira de piloto. Pedi as contas na GOL, depois de finalizar a instrução prática em 15 dias. Não tinha nem feito o teste psicotécnico da EJ, mas queria ser piloto a partir daquele momento.

Voei na EJ por pouco tempo, mas achei muito bacana dar instrução. Incentivava muito os alunos a fazerem voo solo, é uma oportunidade única pra conhecer nossos limites e saber se planejar. Sei o quanto foi importante pra mim. A primeira vez que eu solei na EJ, e que considero solo mesmo, não conhecia direito a área e fui voando meio que olhando pra trás pra não me perder. Fiquei com medo de me perder durante a execução das manobras e não saber voltar depois. Quando vi a posição lagoa pequena, fiquei aflita e fiz as manobras rapidinho, meio encavalado e voltei. Me lembro que a sensação ao decolar foi mágica, ao curvar pra perna do vento e liberar o circuito eu só pensava em como seria o pouso, só dependia de mim.

Fui chamada pela Azul depois de 3 meses de contratada pela EJ. A primeira sensação ao ser contratada foi de alegria imensa. Em seguida, foi de não conseguir dar conta. Eram muitos manuais, um avião complexo, um recomeço. Veio o ground, veio o simulador, mas a ficha só caiu quando fui pra instrução em rota. Fiquei quase 3 meses em instrução. A gente faz tudo muito lento no começo, com o tempo vai ganhando agilidade, até ficar algo natural.

A propósito, sou eternamente grata pelo meu primeiro emprego na EJ. Ser INVA foi uma experiência que me trouxe muito traquejo na hora de acompanhar a operação de outra pessoa. Acho que é uma fase que todo piloto tem que passar para descobrir seus limites e deixá-los adequados, pois ninguém opera igual à gente. Existem vários estilos de pilotagem. É importante respeitarmos cada estilo e conhecer o colega ou amigo que está ao seu lado. Principalmente quando se trata de avião de passageiros, que você zela pela operação do outro dentro dos moldes que a empresa exige.

Em relação a ter sido comissária antes, o que me acrescentou foi entender como é o trabalho delas e tentar ajudar ao máximo, justificando atrasos e mantendo passageiros informados. Eu costumo repetir ações que eu admirava em outros pilotos.

Todo piloto vira um pouquinho do que acha bom na forma que alguém faz algo. Assim como também todo piloto traz repulsa a certas atitudes que presenciou de alguns colegas. Hoje sou plenamente realizada, amo o que faço, sigo os padrões que a empresa exige e sou eternamente grata pela AZUL ter acreditado em mim com menos de 300 horas.”

Atenciosamente,

Rodrigo Satoshi
INVA – Instrutor de Voo de Avião

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Rodrigo Satoshi
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