“I’m Safe”: Você Está Mesmo a Salvo?

C152_SBJD_Canal_Piloto

Quem conhece a metodologia de ensino nos Estados Unidos sabe que os americanos são bastante afeitos a acrônimos, que ajudem na memorização de qualquer conceito. Com o ensino aeronáutico, não é diferente. Há exemplos clássicos como o PARE, utilizado na recuperação de parafusos, e que por sinal, faz muito mais sentido em nossa língua. Outro desses acrônimos é utilizado para determinar razões para não decolar, algo que também já abordamos anteriormente. Para que se verifiquem os fatores humanos que podem comprometer a segurança de um voo, os americanos criaram um acrônimo bastante sugestivo: “I’m Safe”.

A expressão pode ser traduzida como “Estou Seguro”, e em cada uma de suas letras, encontra-se a inicial de algo a ser verificado antes de decolar. Vejamos então cada um desses itens:


Illness (doença): Parece até desnecessário dizer que um piloto só deve pilotar em boas condições de saúde. Entretanto, mesmo problemas aparentemente simples devem ser considerados neste momento. Uma simples constipação, quando exposta às variações de pressão causadas pela altitude, pode causar desconfortos sérios, além de limitações na audição do piloto. Em caso de dúvidas, consultar um médico aeroespacial é bastante aconselhável.

Medication (medicações): Ainda que a enfermidade em si pareça inofensiva para o piloto, muitas medicações podem comprometer a sua capacidade de pilotar. Remédios como anti-gripais, por exemplo, podem causar sonolência ao piloto, comprometendo seus reflexos. Por isso, caso precise ingerir algum remédio, consulte sempre a bula do mesmo, em especial a seção que trata sobre operação de máquinas após a ingestão.

Stress: A palavra sequer exige tradução, e seus efeitos são bastante conhecidos. É sabido que, sob situação de stress, qualquer profissional comete um índice maior de erros, e está mais propenso a esquecimentos. Se uma situação estressante precede um voo, é recomendável deixar que um colega assuma a próxima etapa.

Alcohol (álcool): Se a bebida já causa sérios estragos no trânsito terrestre, imagine então no tráfego aéreo. Desorientação, prejuízo aos reflexos e dificuldade de raciocínio estão entre os inúmeros efeitos do álcool, podendo levar a consequências fatais. Na dúvida, para garantir uma metabolização satisfatória da substância, certifique-se de não ingerir bebidas alcoólicas nas últimas 48 horas antes de apresentar-se para o próximo voo.

Fatigue (fadiga): Infelizmente, a palavra “fadiga” aparece em inúmeros relatórios finais do CENIPA, e não somente se referindo a fadiga de materiais. A fadiga física ou mental é um dos principais fatores contribuintes – e em muitos casos, até determinantes – de incidentes e acidentes aéreos. Para que se tenha uma ideia, estudos recentes indicam que 22 horas sem dormir podem ser equivalentes a 5 latas de cerveja, no que diz respeito aos prejuízos aos reflexos e capacidade de raciocínio. Pela sua segurança e de seus passageiros, jamais negligencie uma boa noite de sono.

Eating (alimentação): Aqui, o problema pode estar tanto na falta quanto no excesso. Alimentação excessiva pode causar desconfortos e sonolência; falta de alimentação, por outro lado, pode comprometer a capacidade de concentração do piloto. Antes de voar, recomenda-se sempre uma refeição leve, e uma ida ao toalete. Para etapas mais longas, um lanche que evite o catabolismo e possa ser consumido com segurança também pode ser considerado.


Estando ciente deste acrônimo e de cada um de seus itens, um piloto consegue verificar se está em condições de assumir um voo. Isso feito, basta verificar a meteorologia e checar rigorosamente a aeronave, para que se possa decolar afirmando sem medo: “Estou Seguro”.

Luiz Cláudio Ribeirinho
Redes
Latest posts by Luiz Cláudio Ribeirinho (see all)