O voo, um diamante bruto

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Antes de tudo, é preciso entender que as leis aerodinâmicas nunca mudaram, tal como uma asa se comporta sempre da mesma forma sob influência do vento. Muitas melhorias realmente foram feitas, e seja visível ou não, hoje uma asa é realmente muito diferente daquela que deu início ao voo, uma centena de anos atrás. Eu me arrisco a dizer que a asa do avião que você voa hoje já se mostra diferente da que você voou no ano passado, salvo alguns casos onde essa mudança é dificultada pela legislação.

Após a Primeira Guerra Mundial, a indústria da aviação ganhou força descomunal, bem como uma cobrança imposta por uma corrida armamentista e tecnológica. A cada novo dia, mostrar ao mundo uma aeronave mais desenvolvida que a de ontem era mais do que necessário. Exatamente isso foi o que impulsionou, logo de início, a melhoria de perfis e criação de dispositivos. Após isso, a corrida comercial se encarregou de manter a aviação em constante evolução.

O mais interessante sobre esse assunto é entender por que novos “utensílios” e adaptações às superfícies aerodinâmicas foram desenvolvidas com o tempo. A resposta para isso está na ideia principal, que defendo desde o início da série desta semana: A dinâmica e as leis que o voo obedece não mudam. Dessa forma, uma asa em si não pode mudar seu conceito básico de sustentação, mas sim melhorar e alternar para determinadas funções específicas. Esse fato força o aprimoramento como ideia principal na aviação, e não a mudança extrema como vemos em outras áreas da engenharia automotiva. Assim, é possível ver asas relativamente diferentes na sua fisionomia e forma, mas iguais no comportamento e função básica.

Essa geração de dispositivos nos levou por muitos caminhos, como alternativas para fazer o voo melhor e mais econômico. Um exemplo desses dispositivos foram os Winglets. O Winglet foi concebido exatamente dessa forma, melhorando o comportamento de uma asa quando exposta a altas velocidades, e afetada pelo arrasto induzido – perda de pressão dinâmica de ar pelas pontas das asas (intradorso), para a parte superior e de menor pressão (extradorso). Isso reduziu os gastos de combustível em longas jornadas em até 15%, visto que todo tipo de arrasto demanda tração dos motores para manter o movimento da aeronave.

Costumo comparar o funcionamento de uma asa como uma pedra bruta, valiosa e funcional para determinado fim, mas que sem dúvida terá maior valor se lapidada ou tratada, ou seja, aprimorada e desenvolvida como os dispositivos visuais fazem com as superfícies aerodinâmicas das asas. No decorrer da semana, vamos continuar vendo mais exemplos e discutindo também mais profundamente essas mudanças dos dispositivos que hoje observamos nas aeronaves.

Eduardo Mateus Nobrega
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