Poesia aeronáutica
Às coordenadas tantas
de uma carta aérea
um Aeroplano apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Aeronave.
Olhou-a com um olhar aerostático
e viu-a da bequilha ao cone de cauda
uma silhueta aerodinâmica;
olhos flapeados, boca carenada,
fuselagem esguia, seios entelados.
Fez de sua uma vida
vetorada à dela
até que se encontraram
no topo da camada.
“Quem és tu?”, indagou ele
perdendo a sustentação.
“Sou a famosa treinadora da Piper.
Mas pode me chamar de Paulistinha.”
E de falarem descobriram que eram
(o que em aeronáutica corresponde
a almas irmãs)
aeródinos entre si.
E assim se amaram
muito acima da velocidade de estol
numa longa navegação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
loops, tonneaus, toques e arremetidas
nos prazeres do voo em formação.
Escandalizaram os ortodrômicos da torre de controle
e os checadores de altitude padrão.
Romperam convenções anacrônicas e meteóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
uma estrutura alar.
Convidaram para padrinhos
o Aileron e a Longarina.
E fizeram planos, rotas e trajetórias para o futuro
sonhando com uma felicidade
inercial e frequencial.
E se casaram e tiveram uma nacele e três montantes
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
o Romeo Papa Juliet
frequentador de esquadrilhas acrobáticas,
turbulento ao cúmulo.
Ofereceu-lhe, a ela,
um desvio não homologado
e reduziu-a a um experimental comum.
Ele, estável, percebeu
que com ela não cotejava mais como um todo,
uma frota dividida.
Era o triângulo do vento,
tanto chamado amoroso.
Fora do compasso ela era uma declinação,
não mais a magnética.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.
Franco G. Rovedo
(Adaptação de “Poesia matemática” do Millor Fernandes)
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