Na vida de um piloto, é natural haver sempre aquela expectativa pelo próximo voo. Quer esse voo seja a próxima aula prática, o próximo passeio com a família ou o próximo trecho de uma rotina de trabalho, inúmeros preparativos antecedem o momento de escutar o tão desejado “decolagem autorizada”. Precisamos planejar as nossas navegações, verificar a meteorologia, deslocarmo-nos até o aeródromo de partida (muitas vezes, indo de uma cidade a outra), inspecionar a aeronave… E se, ao final de tudo isso, precisarmos cancelar um voo?
É normal que um voo cancelado traga uma grande frustração ao piloto. Porém, é essencial lembrarmo-nos de que, quando se fala em aviação, a segurança deve vir sempre em primeiro lugar. Portanto, é preciso não apenas saber as razões para não decolar, mas termos consciência dos motivos pelos quais jamais devemos negligenciá-las. Eis aqui algumas razões que nunca devemos tentar enfrentar, por mais aguardado que seja o nosso voo:
Deterioração Meteorológica
“Ah, é só uma garoa, isso logo passa”. Esse pode até ser um argumento válido para deixar um casaco em casa, mas quando se fala em decolar, a questão é bem mais delicada. Condições meteorológicas podem mudar rápida e radicalmente, contrariando os TAFs mais recentes – que é importante lembrar, são apenas previsões. Não apenas os ventos podem superar os limites operacionais de sua aeronave, mas também, uma repentina redução no teto operacional pode colocá-lo inesperadamente em condições IMC, causando um cenário propício à desorientação espacial, uma das principais causadoras de acidentes fatais na aviação. Mesmo quem decola precisa dispor sempre de alternativas.
Inconformidades de checklist ou inspeção
Decolar sem uma reserva de combustível pode ser só um incômodo, mas também pode ser a causa de um pouso forçado, ou mesmo de uma pane seca. Uma queda excessiva da rotação do motor no cheque de magnetos pode ser só uma vela suja, ou algo que vai lhe deixar em pane de motor em pleno voo. Os motivos podem parecer banais, mas sempre convém lembrar que aerovias e corredores visuais não dispõem de acostamento. Na dúvida, é sempre melhor evitar surpresas.
Condições psicológicas do piloto
Se o meio e a máquina podem ser a causa do cancelamento de um voo, por que o fator humano também não seria? Uma noite mal dormida, uma preocupação com problemas pessoais, qualquer sentimento de insegurança ou incerteza pode prejudicar a concentração e o correto julgamento do piloto, mesmo em situações normais. Não vale a pena arriscar em uma área onde o “acho que dá” não tem lugar.
Por maior que seja a nossa frustração em não voar, ela jamais superaria os prejuízos de uma eventual decolagem que não deveria ter ocorrido. Saber quando NÃO voar também faz parte das atribuições de um bom piloto. Por isso, cancelar um voo por uma causa bem justificada também caracteriza missão cumprida, por parte do piloto em comando. Como diz um ditado da aviação, é melhor estar aqui em baixo querendo estar lá em cima, do que estar lá em cima querendo estar aqui em baixo.
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