História das Companhias Aéreas – Capítulo 48

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Capítulo 48

Mais do que ser uma das maiores companhias aéreas da principal economia mundial, a Pan American World Airways – mais conhecida como Pan Am – foi uma das mais emblemáticas linhas aéreas de toda a história da aviação civil. Muitas de suas inovações moldaram a indústria aeronáutica da forma que a conhecemos nos dias de hoje. Elementos como o glamour da era de ouro da aviação, por exemplo, nasceram nas asas da Pan Am, que se tornou assim um ícone cultural do século XX.

A Pan Am foi fundada em 14 de Março de 1927, pelos Majores Henry H. “Hap” Arnold, Carl A. Spaatz, e John H. Jouett. Assim como muitas de suas compatriotas, a Pan Am nasceu com a missão de prover serviços aéreos postais, no entanto com um diferencial entre os seus objetivos: oferecer concorrência à Sociedad Colombo Alemana de Transporte Aéreo (SCADTA), cujo crescimento no mercado internacional garantia um posicionamento estratégico ameaçador à aviação americana.

Através de lobbies, a SCADTA já havia garantido o domínio das operações aéreas no Canal do Panamá, o que poderia tornar a conexão postal dos Estados Unidos com a América Latina dependente de seus serviços. Através de seus próprios lobbies, de investidores com influências políticas e da aquisição de companhias menores, a Pan Am garantiu os mais importantes direitos de pouso em Havana, assegurando assim os contratos postais entre os Estados Unidos e Cuba. Temendo os riscos da concorrência internacional à sua própria economia, o governo americano incentivou os seus investidores a concentrarem seus recursos em ações da Pan Am, fazendo desta o instrumento através do qual o país se estabeleceria nas rotas mundiais.

Como muitas de suas primeiras operações internacionais visavam o mercado sul-americano, foram utilizados inicialmente hidroplanos como o Fairchild FC-2 e os Sikorsky S-38 e S-40, que garantiriam operações seguras sobre a costa leste das américas. Assim, o termo “Clipper”, utilizado para denominar muitas embarcações marítimas a vela, viria também a batizar as aeronaves da Pan Am. Até o fim de suas operações, o termo foi um prefixo oficial dos nomes de todas as suas aeronaves, além de ser também o callsign da companhia em suas radiocomunicações.

Com o início dos voos intercontinentais, a Pan Am teve que enfrentar a concorrência das glamorosas viagens em cruzeiros marítimos. Notando que o tempo mais curto de viagens não seria capaz de vencer sozinho tal concorrência, a companhia resolveu inovar mais uma vez. Assim, seus tripulantes passaram a adotar a indumentária típica das tripulações marítimas, em substituição a itens como as jaquetas de couro, gorros e óculos usuais aos aviadores da época. Essa tendência estabeleceu-se de tal forma que, até os dias atuais, os aviadores utilizam quepes e berimbelas inspirados nos uniformes marítimos. O termo “Captain” (“Capitão”), que designa a autoridade máxima a bordo de um navio, também designa até hoje os comandantes aeronáuticos, e foi adotado desta forma pela primeira vez pela Pan Am.

Ao longo da Segunda Guerra Mundial, a maioria das aeronaves da Pan Am foi requisitada aos serviços militares. Mesmo assim, a companhia protagonizou momentos memoráveis. Em janeiro de 1943, o presidente americano Franklin D. Roosevelt se tornou o primeiro presidente americano a voar para fora dos Estados Unidos, a bordo de uma de suas aeronaves. Na mesma época, um de seus pilotos era ninguém menos do que Gene Roddenberry, que se tornaria famoso anos depois com a criação da série de TV Star Trek.

A Pan Am foi também uma das principais companhias a popularizar a utilização de aeronaves a jato. Sua frota foi uma das primeiras a se compor totalmente desse tipo de aeronave. A Pan Am também foi responsável por dar início à era dos widebodies, sendo a primeira empresa a empregar o Boeing 747.

No ano de 1964, a Pan Am revolucionou o sistema de reservas aéreas, criando sua primeira versão computadorizada. O PANAMAC foi um computador criado pela IBM sob encomenda para a Pan Am, com a finalidade exclusiva de informatizar as reservas de passagens e hotéis. Em uma era muito anterior à Internet, sua base de dados concentrava uma infinidade de informações sobre cidades, países, aeroportos, aeronaves, hotéis e restaurantes. Como a capacidade de armazenamento de dados da época não se comparava à que dispomos nos dias de hoje, o PANAMAC tinha dimensões físicas colossais, ocupando todo o quarto andar do Edifício Pan Am, atual edifício MetLife no centro de Manhattan.

A companhia atingiu seu auge entre as décadas de 1960 e 1970. No ano de 1968, sua frota era composta por 150 aeronaves a jato, que voavam para 86 países em todos os continentes, com exceção da Antártida. Suas tripulações eram multilíngues, de nível universitário, frequentemente treinadas em enfermagem entre outras habilidades, reafirmando a importância que a Pan Am sempre deu ao treinamento de seus tripulantes desde o início de suas operações. Sua gastronomia de bordo, inspirada no restaurante Maxim’s de Paris, conferia aos serviços da Pan Am um glamour raramente igualado na aviação mundial.

Após enfrentar a crise do petróleo de 1973, severos cortes de pessoal na década de 1980, a alta excessiva dos combustíveis causada pela Guerra do Golfo Pérsico em 1990 e outras falhas em sua gestão, a Pan Am foi obrigada a declarar falência em 8 de Janeiro de 1991, tendo boa parte de seus ativos adquiridos pela Delta Airlines. Encerrava-se assim uma gloriosa história, com muito mais detalhes do que seria possível abordar em um único artigo. Sua memória, no entanto, permanece viva até os dias de hoje – e parece longe de se esvair para sempre.

No vídeo abaixo, você confere a mais recente aparição da Pan Am na cultura pop mundial. A série “Pan Am”, produzida em 2011 pela emissora americana ABC, coloca as emblemáticas comissárias da companhia como protagonistas de histórias de aventura e romance, ambientadas nos voos da época áurea da linha aérea. A série é estrelada pela atriz Christina Ricci, famosa por sua participação em filmes como “A Família Addams” e “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”. Aproveite a ausência de legendas, e pratique também sua percepção em inglês para a certificação ICAO:

Luiz Cláudio Ribeirinho
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