História das Companhias Aéreas – Capítulo 49

posted in: Artigos | 0

Capítulo 49

Na data em que este artigo vai ao ar, dia 7 de Maio de 2014, a Viação Aérea Rio Grandense – mais conhecida como VARIG – completaria 87 anos. É difícil não usar de certa nostalgia ao falar da companhia aérea brasileira que atingiu maior relevância no cenário mundial. Com uma frota de mais de 200 aeronaves, além de numerosos destinos nas Américas, Europa, Ásia e África, a VARIG foi motivo de orgulho para muitos brasileiros, principalmente seus tripulantes. Estes mantiveram, até o dia do último voo, o alto padrão que foi marca registrada da companhia.

A Varig foi a primeira companhia aérea fundada em solo brasileiro. Ela foi criada em 7 de Maio de 1927 por Otto Ernst Meyer-Labastille, um condecorado piloto alemão da Primeira Guerra Mundial, que havia imigrado ao Brasil em 1921. Labastille – em conjunto com influentes investidores que, por sua vez, eram importantes personalidades germano-brasileiras do Rio Grande do Sul – logo notou a necessidade de serviços de transporte aéreo, em um país com as extensões continentais do Brasil.

As operações da companhia iniciaram-se com voos regionais, partindo de Porto Alegre a Rio Grande, com escala em Pelotas. Para essas primeiras operações, a Varig herdou o “Atlântico”, um hidroavião Dornier Do J, primeira aeronave a ser registrada no Brasil, que havia pertencido ao Syndicato Condor. O primeiro voo internacional ocorreu em 5 de Agosto de 1942, partindo da base de Porto Alegre com destino a Montevidéu, no Uruguai.

Com o advento da Segunda Guerra Mundial, os Países Aliados declararam guerra aos Países do Eixo, do qual fazia parte a Alemanha de Adolf Hitler. Assim a Varig, que operava com uma frota de aeronaves predominantemente alemãs, necessitou dissociar-se de suas origens germânicas, para que suas operações não fossem prejudicadas. O corpo de acionistas decidiu, então, que seu próximo presidente deveria ser um brasileiro. Após uma breve gestão de Érico de Assis Brasil, a gestão da Varig passou às mãos de Ruben Martin Berta, que se manteve no cargo até seu falecimento, em 1966.

Uma das primeiras ações de Ruben Berta no comando da Varig foi buscar que a empresa pertencesse aos seus empregados. Sua proposta, aprovada em assembléia, transferia 50% das ações da empresa a uma entidade sem fins lucrativos, fundada com o objetivo de prover benefícios de saúde, financeiros, sociais e educacionais aos tripulantes e seus familiares. Nascia assim a Fundação Ruben Berta, reconhecida por prestar importantes serviços de valor social e humanitário.

Em 1949, a Varig tornou-se a única companhia brasileira a receber concessão do Governo Federal para operar voos com destino aos Estados Unidos. O voo inaugural desta rota ocorreu com uma aeronave Lockheed L-1049G Super Constellation, decolando do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, com destino a Nova Yorque. Em 1953, iniciaram-se os voos com destino a Buenos Aires, na Argentina. A Varig, então, servia 55 cidades no Brasil e quatro no exterior, sendo a segunda maior companhia brasileira em passageiros transportados.

Outra ação de fundamental importância para o crescimento da Varig foi sua participação majoritária na criação da Ponte Aérea, ligando as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Ao lado das companhias Cruzeiro do Sul e VASP, a Varig criou um conceito inovador de transporte aéreo. A Ponte Aérea, com seus voos de duração inferior a uma hora e lucros compartilhados pelas companhias participantes, foi a primeira do seu gênero em todo o mundo. Nessas operações, era amplamente utilizado o Lockheed L-10 Electra, uma das mais emblemáticas aeronaves de sua frota.

Nos anos que se seguiram, a Varig adquiriu outras companhias, como a Real Transportes Aéreos e a Cruzeiro do Sul. Adquiriu direitos de operação antes pertencentes à Panair do Brasil, expandindo significativamente suas rotas. Criou subdivisões regionais, como a Rio-Sul Serviços Aéreos. Foi a primeira companhia a operar widebodies no Brasil, com o Douglas DC-10-30. Adquiriu aeronaves widebody como o Boeing 747, sendo a única companhia brasileira até hoje a operar esse modelo. Foi também a única companhia brasileira a chegar a destinos longínquos como Hong Kong e Tokyo. Seu impecável serviço de bordo, no qual era servido até mesmo caviar, rendeu-lhe inclusive comparações com a Pan Am. A Varig atingia o patamar das maiores companhias aéreas mundiais, colocando o Brasil em evidência internacional.

Os altos índices inflacionários da economia brasileira na década de 1980 – aliados à concorrência de empresas como VASP, Transbrasil e outras internacionais que passaram a operar em nosso território – começaram a formar um cenário desfavorável para a Varig. Até mesmo os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, que prejudicaram ao mundo inteiro de inúmeras formas, também trouxeram seus impactos financeiros para a companhia. Seguiram-se então inúmeras falhas de gestão, aliadas a uma dívida jamais saldada que o Governo Federal havia contraído com a Varig, no valor de 4,7 bilhões de Reais.

Infelizmente, as iniciativas de salvar a Varig não obtiveram êxito. Em 20 de julho de 2006, a empresa entrou em um processo de recuperação judicial, sem precedentes na história jurídica brasileira. A companhia foi subdividida, tendo parte dos seus ativos adquirida pela Gol Linhas Aéreas. A falência da Varig foi decretada em 20 de Agosto de 2010, e até hoje, inúmeros tripulantes esperam reaver na justiça seus direitos trabalhistas, após servirem fiel e exemplarmente à maior companhia aérea de nossa história.

A Varig e seus momentos gloriosos, no entanto, sempre serão lembrados por seus tripulantes, e pelos brasileiros que presenciaram seus momentos áureos. O vídeo abaixo, que compila filmes internos de treinamento da companhia, demonstra o comprometimento da Varig com a excelência em voo – algo que, esperamos, seja um dia igualado por outra companhia aérea brasileira:

Luiz Cláudio Ribeirinho
Redes
Latest posts by Luiz Cláudio Ribeirinho (see all)