O Escândalo Aéreo de 1930 – Parte 2 de 2

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O incidente já manchava a reputação da Casa Branca quando Roosevelt assumiu o poder. Numa tentativa de resolver a questão o mais rápido possível, o gabinete do recém-eleito presidente optou por devolver o controle da malha aérea postal à Força Aérea Americana, mesmo sem haver absoluta certeza da viabilidade dessa iniciativa. A responsabilidade recaiu sobre os ombros do Major Benjamin Foulois, autoridade máxima da Força Aérea Americana, a quem coube apenas aceitar as ordens sem questioná-las. Nascia aí o segundo grande problema relacionado ao escândalo.

A Força Aérea Americana teria a missão de entregar correspondências ao longo de uma malha aérea que cobria praticamente todo o seu território nacional. Àquela altura, os voos postais já ocorriam predominantemente à noite, quaisquer fossem as condições meteorológicas. Especializados no combate aéreo de curto alcance, conhecido como dogfight, os pilotos militares americanos não estavam habituados ao mau tempo, nem às navegações por instrumentos. Em um país assolado pela crise de 1929, a situação da frota aérea também não era das melhores: pouquíssimas aeronaves estavam equipadas com equipamentos básicos como giros direcionais, horizontes artificiais e rádios de comunicação aérea.

Em virtude do despreparo dos pilotos militares, o que se seguiu foi uma série de incidentes aéreos que, ao longo de 78 dias de operações, resultaram em 66 acidentes, custando a vida de 12 tripulantes. O termo “Assassinato Legalizado” tornou-se um bordão recorrente entre aqueles que se referiam à iniciativa do Presidente Roosevelt em lidar com o escândalo. O Major Foulois tornou-se um verdadeiro bode expiatório de toda a questão, para que a imagem política de Franklin Roosevelt fosse poupada perante o fiasco.

Apesar de todos os efeitos catastróficos, o Escândalo Aéreo de 1930 serviu para amadurecer novos e duradouros padrões da aviação comercial. Novas regras foram criadas para regulamentar a aviação postal, tornando a atividade a menos lucrativa possível. Dessa forma, a exploração comercial das rotas postais – e os consequentes lobbies surgidos dessas explorações – foram desencorajados. A aviação comercial voltou-se então ao transporte de passageiros, tal como permanece até os dias de hoje.

A aviação militar também se beneficiou das lições aprendidas no incidente. O voo por instrumentos passou a fazer parte da grade curricular dos novos pilotos combatentes. Houve também investimentos no sentido de equipar aeronaves militares com o que houvesse de mais atual em termos de rádio-navegação e rádio-comunicação. O âmbito das Forças Armadas, como observamos ao longo das décadas seguintes, viria a se revelar um dos melhores laboratórios para o rápido desenvolvimento da instrumentação de aeronaves, trazendo-a aos patamares que conhecemos nos dias de hoje.

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Luiz Cláudio Ribeirinho
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