O que há de errado, Sr. Bernoulli?

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No início de nossa formação como pilotos, ainda durante o estudo teórico para pilotos privados, aprendemos a responder à mais trivial das questões aeronáuticas: por que os aviões voam? Certamente, enquanto aviadores, já ouvimos essa questão diversas vezes, ou até chegamos a nos perguntar o mesmo quando despertou-se, em nós, o interesse por voar. Tudo começa quando, nas primeiras aulas de Teoria de Voo, somos apresentados a um senhor chamado Daniel Bernoulli e seu famoso Teorema.

Conforme aprendemos, o Teorema de Bernoulli preconiza que, quanto maior a velocidade de um fluido sobre uma superfície, maior a pressão dinâmica e menor a pressão estática sobre esta. Graças a isso, as diferenças de perfis aerodinâmicos entre o intradorso e o extradorso de uma asa geram diferenciais de pressão, que explicam como aviões e helicópteros se sustentam no ar. Mas e se tudo o que aprendemos sobre sustentação até hoje não estiver totalmente correto?

É o que propõe o trabalho monográfico de bacharelado de Augusto Montalvão, formando do curso de Ciências Aeronáuticas da ESAC – Escola Superior de Aviação Civil, de Campina Grande/PB. De acordo com o trabalho monográfico de Montalvão, orientado pelo professor Dr. Marcos Antônio Barros, as explicações para o princípio da sustentação usualmente acessadas por alunos contém erros de interpretação, que ainda por cima, propagam-se rapidamente graças à ágil (e por vezes indiscriminada) disseminação de informações pela Internet.

O trabalho questiona, principalmente, dois conceitos amplamente propagados como explicações à teoria da sustentação, baseada no Teorema de Bernoulli. O primeiro conceito apresentado como equivocado é o de que a diferença de comprimento entre os dorsos de uma asa – intradorso e extradorso – seja responsável por gerar sustentação em um aerofólio. O segundo equívoco apontado por sua pesquisa refere-se à concepção de que partículas separadas no bordo de ataque voltam a se encontrar no bordo de fuga, gerando diferenciais na velocidade do ar sobre os dorsos e, consequentemente, diferenciais de pressão que sustentam a aeronave.

Logicamente, a pesquisa não visa questionar a sustentação em si, mas sim, a forma como ela é interpretada. Conforme propõem Barros e Montalvão, os diferenciais de pressão gerados nos dorsos das asas seriam causa, e não consequência, das velocidades dos fluidos sobre os aerofólios. Em outras palavras, é o diferencial de pressão que propicia maior velocidade de deslocamento do ar, e não o contrário. A monografia enaltece, ainda, o trabalho de autores como David Anderson e Scott Eberhardt, que seguem atendo-se à Terceira Lei de Newton, em busca de explicações mais isentas de erros para o princípio da sustentação.

O trabalho monográfico ganhou credibilidade ainda maior quando foi selecionado para ser apresentado no 2º International Congress of Science Education (Congresso Internacional de Educação em Ciências), que inicia-se no próximo dia 27 de agosto em Foz do Iguaçu, no Paraná. Se comprovado, o trabalho trará uma renovação à forma como a Teoria de Voo é estudada em Escolas de Aviação e cursos superiores de Aviação Civil e Ciências Aeronáuticas em nosso país, podendo estender-se em âmbito mundial.

Luiz Cláudio Ribeirinho
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